Ícone do site Um Pouquinho de Cada Lugar

Um voo de balão sobre o Vale do Rio Nilo

23 de abril de 2019

No segundo dia do cruzeiro pelo Rio Nilo estávamos em Luxor, no Egito. Acordamos às 3:15 da madrugada para fazer um passeio de balão sobrevoando o vale do rio. A companhia de balões Menphistour nos pegou no navio e fizemos um transfer até o centro da cidade, onde subimos num barco para atravessar o rio. A aventura começa desde a saída do navio, onde retiramos uma cesta de café-da-manhã e seguimos adiante. No caminho a van pega outros passageiros hospedados em navios e/ou hotéis espalhados pela cidade.

Pegamos os barcos para atravessar o rio.

Atravessamos o rio de barco e na margem esquerda, deixamos a cesta de café da manhã com o barqueiro e continuamos o transfer até o local de saída dos balões. Uma grande área descampada onde aproximadamente 30 balões estavam sendo inflados com ar quentes para dar início à aventura.

Os balões sendo preparados para o voo.

O passeio de balão era opcional para os passageiros do cruzeiro e custava 120 dólares. Muito barato em relação a outros lugares do mundo, como Turquia, Quênia, etc. onde os preços giram em torno de 300 a 400 dólares. Os preços no Egito estão baratos, em função da queda acentuada no número de turistas que o país sofreu com os conflitos políticos e atentados terroristas das últimas décadas.

Passeio de balão

Cada balão carrega duas grandes cestas, divididas em quatro compartimentos, cada uma delas. Em cada compartimento vão quatro passageiros, portanto, cada balão leva 32 pessoas, mais o piloto, que fica num espaço separado. O piloto começa a estabilizar o equipamento, injetando ar quente no balão. Quando a cesta fica em pé, começamos a subir a bordo e aí as dificuldades começam. Não é fácil subir na cesta. A altura não é confortável, até por uma questão de segurança, e tivemos alguma dificuldade.

Subir na cesta do balão já é um sufoco.

Depois que todos estão a bordo, os balões começam a sair um a um. O sistema é comandado pelo calor injetado no interior do balão. O piloto aumenta a temperatura, o ar no interior do balão fica mais leve e ele começa a subir. Os balões não têm comando de direção. Apenas podem subir ou descer. Quem faz ele se movimentar em direções diversas é o vento. O piloto pode interferir um pouco, colocando o balão em altitudes maiores ou menores e pegando ventos em diferentes direções.

Os balões seguem em altitudes diferentes

O voo é suave, mas tenso, pois o barulho do lança-chamas, o calor e a grande altitude gera um pouco de desconforto, mas a visão que temos lá do alto vale muito a experiência. Dr. Nery, que viajava comigo, chegou a passar mal. Teve uma queda de pressão, motivada pelo desconforto da altitude. Depois que o temor passa é só relaxar e aproveitar a paisagem encantadora que se vê lá do alto.

O nascer do sol a partir do balão é espetacular.

O Egito é uma dádiva do Nilo”

O Rio Nilo é o principal responsável pela história do Egito, 96% da sua população vive no Delta e no Vale do Nilo, por conta da grande extensão da área desértica do país e das vantagens que o rio apresenta. Sem o Nilo, o Egito seria apenas um grande deserto improdutivo e sem condições de sustentar a sua população.

Canal de irrigação a partir do Rio Nilo.

Uma faixa estreita de terras cultivadas acompanha todo o curso do rio ao longo da sua trajetória, cortando o deserto. Lá do alto, o mosaico de cores formado pelas áreas agrícolas nas suas margens e nos seus canais, impressiona. O ciclo anual de cheias do Rio Nilo depositava sedimentos nas margens e repunha os nutrientes necessários para a manutenção da fertilidade das terras. A incrível fertilidade dos solos, possibilitou o desenvolvimento da agricultura a partir de sistemas engenhosos de irrigação. Os grandes canais laterais aparecem em toda a extensão do Rio Nilo no Egito.

Agricultura nas margens do Nilo

As grandes cheias acontecem de junho a novembro. Antigamente as águas avançavam até 20 km além das margens originais fertilizando o solo. Esse avanço foi controlado a partir da construção da barragem de Assuã, em 1971, que regularizou a vasão das águas no médio e baixo curso do rio, acabando com as inundações e diminuindo os transtornos para as populações ribeirinhas, mas diminuindo também a fertilidade dos solos nas margens. Atualmente, a agricultura nas margens do Nilo precisa de fertilizantes, o que não acontecia no passado.

Agricultura nas margens do Nilo

Leia também:

“Egito, uma dádiva do Nilo”

Rio Nilo X Rio Amazonas

Aprendemos na escola que o Nilo é o rio mais extenso do mundo. Existe uma disputa geográfica com o Rio Amazonas sobre esse título. Antigamente considerávamos que a extensão do Rio Nilo era de 6.852 km e a do Rio Amazonas de 6.400 km. Estudos brasileiros e peruanos passaram a considerar novos elementos, como o estuário do Rio Tocantins e de canais secundários ao longo do seu curso, além de reposicionar a sua nascente, ampliando a sua extensão para 6.992 km, superando o Rio Nilo. Estudos de 2009 apontaram a nascente do Rio Nilo para o Rio Rukarara, em Ruanda, um dos depositários de água do Lago Victoria, o que aumentou a sua extensão para 7.088 km, voltando a assumir o posto de mais extenso rio do mundo.

Trajetória do Rio Nilo

Na prática, o Rio Nilo nasce nas montanhas do centro da África, a sul da linha do Equador, como consequência do transbordamento do Lago Victoria e corre para o norte, desaguando num imenso delta, no Mar Mediterrâneo. Ele ganha volume com a confluência de três outros rios, o Nilo Branco, o Nilo Azul e o Rio Atbara. A bacia do Rio Nilo abrange uma área com mais de 3 milhões de quilômetros quadrados.

Nascer do sol sobre o Rio Nilo

O pouso do balão

A agricultura nas margens do Rio Nilo viabilizou a civilização egípcia desde 3.000 anos antes de Cristo e até hoje é intensa. Arroz, milho, cana e uma grande variedade de produtos são extraídos das suas margens. Lá do alto dá para ver a imensidão da área agrícola. O voo passa também, por sobre o parque arqueológico do Vale dos Reis, na margem oeste do Rio Nilo.

Sítio arqueológico nas margens do Nilo.

Quando chega a hora do balão se preparar para o pouso existem outros momentos de tensão. Estávamos sobrevoando uma área com extensa rede de distribuição de energia. A presença dos fios de alta tensão torna a aventura um pouco perigosa. Quando o passeio vai chegando ao fim e o balão já está há poucos metros do chão, aparecem os auxiliares que veem correndo atrás para pegar o balão e forçar a sua aterrisagem. Um balão não pousa. Ele cai e a queda deve ser a mais suave possível. Caímos no meio de uma terra arada para o plantio de cana de açúcar e arroz.

O pouso do balão no meio da área agrícola.

Uma van nos levou até uma cafeteria na beira da estrada, onde ficamos aguardando o resto do grupo do navio, para continuarmos os passeios dessa manhã. Em frente à cafeteria ficamos contemplando as incríveis e monumentais estátuas dos Colossos de Ammon.

Os Colossos de Ammon
Sair da versão mobile