Revisitando o Museu D’Orsay – parte 1
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25 de maio de 2025
Programe as visitas aos museus com antecedência
Estávamos em Paris e decidimos rever alguns lugares da cidade, que amamos. Seguimos de metrô para o Museu D’Orsay, o primeiro ponto que queríamos rever. Não tínhamos comprado ingressos previamente e tivemos que encarar uma fila de aproximadamente uma hora. Nada que tirasse a motivação de rever o Museu. Suas bilheterias ficam próximas à entrada principal, onde normalmente se formam filas, especialmente nos horários de maior movimento. A fina chuva que caia, também não atrapalhou, pois rapidamente apareceram vendedores de guarda-chuva que resolveram os nossos problemas.

A área externa do Museu d’Orsay
Na área externa do Museu d’Orsay, logo em frente à entrada principal, estão dispostas várias esculturas monumentais que já introduzem o visitante ao universo artístico do museu. Entre as mais marcantes, destacam-se o rinoceronte em bronze e o conjunto de esculturas representando nativos de diferentes continentes, originalmente criadas para a Exposição Universal. Essas obras mostram o olhar europeu sobre o mundo no século XIX e valorizam a fachada neoclássica da antiga estação Gare d’Orsay, marcando o início da visita e ampliando a experiência artística para além dos limites internos do edifício.

O edifício do Museu d’Orsay
O “show” do Museu d’Orsay começa com o edifício onde ele foi implantado. Inaugurado em 1986, o Museu ocupa o local histórico que já foi a Gare d’Orsay, uma elegante estação ferroviária construída para a Exposição Universal de 1900. Transformada em museu, o edifício manteve a arquitetura imponente e o amplo hall da antiga estação, que agora estão dedicados às artes. O objetivo do museu é reunir e apresentar obras de arte produzidas entre 1848 e 1914, preenchendo a lacuna entre o Louvre e o Centro George Pompidou. Seu acervo impressionante inclui pinturas, esculturas, fotografias e artes decorativas, com destaque para os mestres do impressionismo e pós-impressionismo.

O pátio principal
O pátio principal do Museu d’Orsay, localizado sob a grandiosa nave central da antiga estação, é um dos espaços mais emblemáticos do museu. Banhado por luz natural que entra pelas janelas superiores, esse amplo corredor abriga uma impressionante coleção de esculturas do século XIX, dispostas ao longo de suas laterais e do eixo central. Entre elas, destacam-se obras em mármore e bronze de artistas franceses e europeus, que criam um percurso visualmente impactante. É um espaço que transmite a grandiosidade do museu e já antecipa a riqueza artística que se encontra nos demais andares.

Ugolino cercado pelos filhos
O Museu d’Orsay abriga duas poderosas esculturas da tragédia de Ugolino, narrada por Dante, em A Divina Comédia. O conde é aprisionado com seus filhos e netos numa torre, onde morrem de fome. Em desespero extremo, Ugolino é acusado de ter devorado os próprios filhos antes de morrer. Uma das esculturas de Ugolino do D’Orsay foi realizada por Jean-Baptiste Carpeaux e uma outra por Auguste Rodin. A versão de Carpeaux é impressionante, capturando com intensidade o desespero de Ugolino cercado pelos filhos, com corpos entrelaçados em uma escultura dinâmica e expressiva. A escultura de Rodin adota uma abordagem mais contida, quase introspectiva, com ênfase na tensão muscular e no sofrimento interior do personagem. Rodin, valoriza as formas inacabadas e o drama, mais do que a narrativa explícita. Enquanto Carpeaux emociona pelo movimento e pela dor escancarada.

Ugolino de Carpeaux
A escultura de Carpeaux, de Ugolino e seus filhos, é originalmente feita em bronze, mas o Museu d’Orsay exibe uma versão em gesso patinado, escuro, com grande riqueza de detalhes. Foi um modelo preparatório para o bronze final que está no Museu do Louvre. Já a versão de Auguste Rodin, também chamada Ugolino, é parte do conjunto monumental de A Porta do Inferno.

Ugolino de Rodin
O Ugolino de Rodin exposto no Museu d’Orsay é feito em gesso branco, um material muito utilizado pelo artista para estudos e moldes preparatórios. Essa versão não é esculpida em mármore, embora possa lembrar visualmente o material devido à sua superfície clara e lisa. O gesso branco permite ao escultor trabalhar com rapidez e precisão nos volumes e detalhes antes da execução em mármore. Rodin valorizava esses moldes em gesso como obras finalizadas, por sua textura crua e pela forma como captavam a luz. A aparência esbranquiçada também contribui para destacar as tensões musculares e a dramaticidade silenciosa da figura de Ugolino.

Negros do Sudão
As esculturas Negros do Sudão, de Charles-Henri-Joseph Cordier, são um dos destaques do acervo do Museu d’Orsay. Criadas em meados do século XIX, essas obras representam figuras africanas com um notável realismo e dignidade, rompendo com estereótipos comuns da época. Cordier era conhecido por seu interesse na diversidade humana e buscava capturar a beleza e a individualidade de povos considerados “exóticos” pela visão europeia daquele período. As esculturas se destacam não apenas pela expressividade dos rostos, mas também pelo uso sofisticado de materiais, como bronze, mármore e onix, em obras originais, embora no d’Orsay o que se veja sejam versões em gesso. Cordier criou imagens que, à época, eram apresentadas como estudos etnográficos. Ainda assim, são obras de forte presença estética e de grande valor histórico e artístico.

O relógio da Estação
O grande relógio do Museu d’Orsay é um dos elementos mais emblemáticos do edifício, herança direta de sua antiga função como estação ferroviária. Instalado na fachada que dá vista para o rio Sena, ele se destaca tanto pelo tamanho quanto pela beleza do seu mostrador envidraçado, que permite a entrada de luz natural. Hoje, o relógio não só preserva a memória da Gare d’Orsay, mas também serve como um marco visual dentro do museu, conectando o passado ferroviário à atual vocação artística do espaço.

A Porta do Inferno
A Porta do Inferno, de Rodin, é uma das obras mais representativas da escultura moderna. Foi criada como uma porta monumental para um museu de artes decorativas que jamais foi construído. A obra foi inspirada na Divina Comédia de Dante e reúne dezenas de figuras, representando as almas condenadas ao inferno. Embora a porta completa esteja exposta em outros museus, o Museu d’Orsay abriga vários fragmentos icônicos desse conjunto. Entre os mais destacados estão O Pensador, originalmente situado no alto da porta, refletindo sobre o destino humano; O Beijo, que representa os amantes Paolo e Francesca; e Ugolino, figura trágica mergulhada em desespero. Essas esculturas, apresentadas individualmente, revelam a intensidade emocional e a genialidade formal de Rodin.

As Quatro Partes do Mundo que Sustentam a Esfera Celestial
A escultura As Quatro Partes do Mundo que Sustentam a Esfera Celestial, de Jean-Baptiste Carpeaux, é uma das obras mais impressionantes do acervo do Museu d’Orsay. Criada originalmente para um jardim em frente ao Observatório de Paris, ela representa quatro figuras femininas alegóricas, simbolizando a Europa, a Ásia, a África e as Américas, unidas em torno de uma esfera armilar que simboliza o universo. A composição dinâmica e a riqueza de detalhes revelam o talento de Carpeaux. É um dos destaques do pátio central.

O Pensador
O Pensador, de Auguste Rodin, é uma escultura icônica da arte moderna. Foi concebido como parte do conjunto de A Porta do Inferno, a figura foi pensada para representar Dante, refletindo sobre os destinos das almas condenadas em A Divina Comédia. Com o tempo, porém, O Pensador ganhou uma importância tão grande, que se tornou um símbolo universal da introspecção e da complexidade do espírito humano. A escultura impressiona pela tensão do corpo musculoso curvado sobre si mesmo, em postura concentrada, que expressa força física e profundidade intelectual. Ocupa um lugar de destaque no pátio central do Museu D’Orsay.

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Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.


