Marcas urbanas
Artigo publicado no Jornal O Correio em dezembro de 2012.
De todas as cidades do mundo, Paris é a mais encantadora. O traçado urbano, o conteúdo artístico e cultural e a paisagem marcada por ícones como o Arco do Triunfo e a Torre Eiffel, fazem da capital francesa a mais desejada do planeta.

Nem sempre foi assim. Até a metade do século XIX, a cidade era um centro desordenado e fétido. Ruas estreitas e sinuosas, faziam de Paris uma cidade trincheira. O Barão Haussmann fez a mais profunda intervenção urbana que o mundo jamais tinha visto. Foi prefeito de Paris de 1853 a 1870. Ficou conhecido como o “artista demolidor”. Destruiu uma boa parte da cidade antiga, criando avenidas largas e planejadas. O Arco do Triunfo na Praça l’Étoile é o ponto de convergência. Daí partem doze avenidas espetaculares em forma de estrela. Dentre elas a Champs-Elyssées, uma das mais charmosas do mundo.

A reforma urbana de Paris do século XIX foi polêmica, endividou o país, mas a herança deixada interferiu definitivamente na vida da cidade, uma marca urbana eterna.

Sob forte influência de urbanistas franceses, os argentinos construíram a sua Avenida 9 de julho, entre 1912 e 1930, para ser a artéria principal de Buenos Aires. A sua construção demoliu cinco quarteirões de prédios, resultando na mais larga avenida do mundo, com cerca de 140m de lado a lado. A execução da 9 de Julho foi polêmica e endividou o país, mas deixou uma marca urbana eterna.

A Ópera House de Sydney na Austrália é o símbolo maior da cidade. Possui formato inusitado, O telhado em concha desenhado pelo arquiteto Jorn Utzon, lembra uma laranja sendo descascada. Possui um grande complexo de teatros e salões interligados sob as suas grandes conchas. O projeto custou uma fortuna, endividou o país, mas se transformou numa marca urbana eterna.

Construir Brasília no meio do “nada”, foi uma decisão corajosa e polêmica. A explosão urbana do Rio de Janeiro, a capital federal, deixava a cidade cada vez mais inviável. A necessidade de efetivar uma integração nacional e estimular a ocupação da região central e oeste do Brasil serviram de argumentos para a tomada de decisão.
O planejamento e traçado urbano ficou a cargo do urbanista Lúcio Costa. O “mago” que projetou a cidade. Oscar Niemayer foi o arquiteto que deu forma e beleza às principais construções. Deixou uma “digital” própria e moderna, dando leveza a estruturas improváveis e influenciando arquitetos no mundo inteiro.
Oscar Niemayer se tornou símbolo de Brasília, ou talvez seja o inverso. A história de Brasília e Oscar Niemayer se confundem e se misturam. A construção foi polêmica. Até hoje não se sabe exatamente quanto custou, mas teve um peso relevante no imenso endividamento externo brasileiro, com consequências graves nas décadas seguintes.
Todas estas intervenções foram caras, endividaram nações, mas tornaram-se marcas urbanas eternas.
Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.