O Sol da Meia-Noite
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- joaquimnery
- 5 de setembro de 2020
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- Europa Finlândia Noruega Super Destaque
19 de junho de 1996
A um passo do Polo Norte
Estávamos em Enontenkio, no norte da Finlândia, na região da Lapônia. Saímos às 8h, com destino ao norte da Noruega. A paisagem foi mudando rapidamente. Passamos por lagos finlandeses, entramos em paisagens de taigas e tundras e encontramos renas pelo caminho.

A Finlândia é conhecida como o “País dos Lagos”. Possui cerca de 190 mil lagos e 180 mil ilhas. O país é plano, com poucas elevações, cobertas de taigas (pequenas coníferas). Possui poucas terras aráveis e a agricultura somente pode ser trabalhada em determinados períodos do ano. 25% do território está além do Círculo Polar Ártico. Os invernos são rigorosos e possui dias muito curtos. No verão é o inverso. Dias muito longos e temperatura amena. Nessa região onde estávamos, no verão acontece o fenômeno do sol da meia-noite, quando o sol não se põe por vários dias. Quanto maior a latitude, mais extenso é o período sem por do sol.

Chegando à Noruega
A partir da fronteira com a Noruega, começamos a subir a cordilheira dos Alpes Escandinavos, a paisagem continuava mudando rapidamente e começavam a aparecer os primeiros vestígios de neve no alto das montanhas.

Os Alpes Escandinavos são uma cordilheira de montanhas que acompanha a Noruega de norte a sul. Em parte do território, serve de fronteira entre a Noruega e a Suécia. Não era o casso dessa região por onde passávamos. Estávamos na porção norte do país, e nessa área, as montanhas são totalmente norueguesas. É uma cordilheira de montanhas velhas. Possui uma idade geológica antiga e os picos são baixos e arredondados. Apesar de baixos, como a Noruega fica em alta latitude, os Alpes Escandinavos ficam quase o ano inteiro, cobertos de neve, pelo menos nas áreas mais altas.

A primeira parada que fizemos na Noruega foi na cidade de Karajosk, onde visitamos um museu de prata e compramos artesanatos locais. Em seguida fomos para o Restaurante Gammen, o melhor da viagem, até aqui. No restaurante, com uma arquitetura típica da Lapônia, foi servido salmão e o almoço terminou com uma apresentação de música e dança típica da Lapônia.

Seguimos viagem e encontramos um primeiro fiorde, o Porsanger, com mais de 200 km de extensão. A Noruega tem uma geografia especial. O desenho do litoral é muito recente, começou a se formar na última grande era glacial, há cerca de 12 mil anos, quando o gelo acumulado sobre a calota polar do Norte, começou a derreter. A imensa massa de gelo pressionou a terra, cavando vales profundos que foram preenchidos pela água do mar. Assim foram surgindo os fiordes. Baías estreitas e muito profundas, que penetram muito no continente, alguns deles, com até 200 km de extensão, pouco mais de 100 metros de largura e 1.500 metros de profundidade.

Essa geografia especial teve e tem até hoje uma forte influência sobre o povo da Noruega. A escassez de terras cultiváveis, apenas 3% do território, sempre levou a uma forte dependência dos produtos do mar. O salmão e o bacalhau estão entre as suas especialidades. A pesca ainda é uma das principais atividade nos fiordes da Noruega. Quase todos os produtos agrícolas, são importados.

A estrada seguiu margeando o Fiorde de Katfiord até o seu ponto final, onde pegamos um ferry para a ilha de Mageroya, no extremo norte da Noruega, onde fica localizado o Cabo Norte (Nordkapp), o nosso principal destino nessa parte da viagem e maior atração da região. Apenas 4 mil pessoas vivem na ilha, sendo que a metade na vila de Honningsvag.

Chegamos a Honningsvag, um lindo porto localizado a 71° de latitude norte, a mais extrema localidade continental do mundo, em direção a Polo Norte. Daí até o polo só existe o Oceano Glacial Ártico e algumas ilhas. Honningsvag parece um presépio à beira mar, disputa o título de cidade mais setentrional do mundo. A cidade fica espremida entre as montanhas e as águas do fiorde. Ficamos hospedados no Hotel North Cape. Saímos para passear, compramos lembranças de viagem e fomos jantar no hotel.

O Sol da Meia-Noite
Após o jantar saímos em direção ao Cabo Norte (Nordkapp). O trajeto foi um dos mais encantadores de toda a viagem. A neve no alto das montanhas por onde passávamos estava misturada com a tundra e formava um espetáculo raro de se ver. O guia da excursão colocou uma fita com músicas clássicas que combinava perfeitamente com a paisagem. Em seguida colocou uma trilha sonora da cantora norueguesa Sissel Kyrkjebø, que segundo o guia, foi composta com inspiração naquelas paisagens. A trilha se chama Innerst i Sjelen.
Impressionante como a música combinava com tudo que víamos pelas janelas do ônibus. As emoções iam se multiplicando a cada minuto. Uma cascata de nuvens foi um dos espetáculos mais fantásticos que já vi.

A chegada ao Cabo Norte foi marcada por uma emoção especial. Estava exageradamente frio e a neblina fechada se abriu rapidamente. O Cabo Norte fica em um imenso platô granítico, com 307 metros de altura, na exata separação entre o Mar do Norte e o Mar de Barents. Aí foi criado toda uma infraestrutura de apoio aos turistas, como restaurantes, mirantes, lojas de lembranças do local, salas de vídeo, museu, capela, etc.

Depois de passear pelo platô e visitar os mirantes, fizemos algumas fotos próximo ao monumento do globo terrestre que fica em destaque na beira do rochedo, brindamos com champanhe àquele momento especial, e ficamos aguardando um dos maiores espetáculos da terra. O SOL DA MEIA-NOITE. Esse fenômeno acontece como consequência da inclinação do eixo da terra e do movimento de translação que ela faz em sua órbita em volta do sol. Acontece nas regiões polares, durante o período do verão.

Quanto maior a latitude, maior será duração do fenômeno do sol da meia-noite. Nessa região do Cabo Norte, o sol nasce na segunda quinzena de maio e só volta a se por na segunda quinzena de agosto. São quase 60 dias de presença contínua do sol. Ao longo do dia ele faz um movimento pendular na linha do horizonte com variações entre 20 e 5 graus de distanciamento. Durante o inverno acontece o fenômeno oposto, as noites polares, quando o sol não aparece por muito tempo. Regressamos ao hotel às 2h da manhã, extasiados com tudo o que vimos.

Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.
Comments (2)
joaquimnery
06 set 2020Obrigado Celeste. Continue acompanhando!
Um abraço.
Celeste Cunha
06 set 2020Adorei o incrível fenónemo do sol da meia-noite, bem como todos os outros maravilhosos posts.
Muito obrigada.
Cumprimentos