A vida de Dian Fossey em Ruanda
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- joaquimnery
- 7 de setembro de 2015
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- África Ruanda
06 de agosto de 2015
Saímos do Mountain Gorilla View Lodge e seguimos para Kinigi, a cidade mais próxima das Montanhas Virunga. O movimento nas ruas de Kinigi é frenético. São pessoas pobres que circulam com seus produtos em todas as direções. Pobreza com dignidade. A impressão que tive é de que todos estavam trabalhando de alguma forma. A agricultura familiar intensiva, por força de trabalho, gera emprego. O que vi foram trocas de mercadorias na beira da estrada e no meio da cidade a todo momento.

Paramos em Kinigi para visitar a sede do Dian Fossey Fund, um fundo implementado pela ativista e naturalista americana Dian Fossey, com o objetivo de arrecadar recursos para ajudar na luta pela preservação dos gorilas-das-montanhas.

Na sede do Fundo Dian Fossey existe uma exposição de material impresso (cartazes, folhetos, etc.), falando sobre a vida da naturalista e sobre as características principais dos gorilas-das-montanhas, além de alguns objetos que acompanharam a vida da Dian Fossey em Ruanda.

Dian Fossey nasceu em São Francisco, nos Estados Unidos da América em 1932, estudou veterinária, se tornou doutora em zoologia pela Universidade de Cambridge em 1974. Teve a oportunidade de ir à África pela primeira vez em 1963, com 31 anos, quando visitou Quênia, Tanzânia, Congo e Uganda. Na Tanzânia conheceu o casal de antropólogos Louis e Mary Leaky, que faziam pesquisas no sítio arqueológico da Garganta do Olduvai, um dos mais importantes do mundo, no meio de uma área de difícil acesso. Essa região é conhecida como O Berço da Humanidade.

Na Garganta do Olduvai, Louis Leakey encontrou ossadas de dinossauros e restos do Australopithecus, que viveu há 3,6 milhões de anos, considerado o primeiro hominídeo bípede do mundo. O Casal Leaky levou Dian Fossey até a região do Congo, antigo Zaire, onde teve contato, a princípio com chimpanzés, e depois com os gorilas-das-montanhas.

Dian Fossey se apaixonou pelos gorilas-das-montanhas e decidiu viver na África, onde iniciou um trabalho para maior conhecimento e tentativa de proteção desses animais. Saiu do Congo, foi para Ruanda, onde fundou o Centro de Pesquisa Karisoke, vinculado à Universidade de Cornell, dentro do Parque Nacional dos Vulcões, entre dois vulcões: Karisimbi e Visoke. Começou a estudar os gorilas-das-montanhas.

Era conhecida pelos nativos como “Nyiramachabelli”, a mulher que vive sozinha na montanha. Começou a conviver com as famílias de gorilas, brincava com os mais jovens e passou a identificar os animais individualmente, entendendo o comportamento e batizando cada um deles com nomes próprios. Adquiriu a confiança dos grandes macacos, após anos de observações.

O seu gorila preferido recebeu o nome de Digit. Quando o encontrou, ele tinha um dedo da mão decepado, daí o nome que lhe deu: Digit (digital). Fossey conheceu Digit aos cinco anos de idade e conviveu com ele por sete anos, quando foi morto por caçadores, em 1977, com cinco facadas. Morreu jovem, com 12 anos. Os caçadores deceparam a sua cabeça e arrancaram as mãos para que fossem transformadas em cinzeiros.


Mais tarde, criou o Fundo Digit, para arrecadar recurso que deveriam ser utilizados na pesquisa com os gorilas-das-montanhas. Após a morte da ambientalista, foi rebatizado como “Fundo Internacional Gorila Dian Fossey” (Dian Fossey Gorilla Fund International), cuja sede em Ruanda fica em Kinigi.

Fossey viveu em Ruanda por 22 anos, começou uma forte campanha mundial para conter a caça desses animais. As fotos que fez de Digit morto com as mãos decepadas foram publicadas pela National Geographic Magazine. Incomodou caçadores, criadores de gado, comunidades inteiras, políticos e funcionários públicos corruptos. Foi assassinada em dezembro de 1985, a golpes de facão, com 53 anos, nas Montanhas Virunga, em Ruanda. O seu corpo foi encontrado dentro da cabana onde vivia. Ninguém jamais soube dos seus assassinos.

Hoje, os corpos de Digit e da doutora Dian Fossey estão enterrados lado a lado, nas Montanhas Virunga, atrás da sua cabine de observação, no Centro de Pesquisa Karisoke. O local dos túmulos é um ponto de peregrinação de naturalistas e fãs da ambientalista.

O seu legado continua vivo através do Fundo que leva o seu nome e que luta contra a extinção desses animais. Quando a luta de Dian Fossey começou, existiam menos de 250 gorilas-das-montanhas. Hoje são quase 900. Os animais são protegidos pelo governo de Ruanda e por várias organizações internacionais, incluindo o The Dian Fossey Gorilla Fund International.

O filme, Na Montanha dos Gorilas, de 1988, com Sigourney Weaver, obteve várias indicações ao Oscar e conta esses momentos da vida de Dian Fossey.

Saímos do Dian Fossey Fund em Kinigi e seguimos para Kigali. Na viagem, chama a atenção a agricultura em toda a extensão da estrada. Os solos vulcânicos, férteis, facilitam o cultivo da batata, milho, feijão e hortigranjeiros, que são comuns na agricultura familiar de Ruanda.

A elevada população exige uma agricultura intensiva. A sensação que temos é de que eles aproveitam todo o espaço disponível. Destaca-se o cultivo nas encostas mais íngremes e a grande quantidade de pessoas trabalhando na lavoura.

Chegamos a Kigali, a capital de Ruanda, após três horas de viagem por uma boa estrada sinuosa. As montanhas dão à Ruanda o título de, País das Mil Colinas. Desta vez passamos pelas áreas mais ricas da cidade, o que nos impressionou. Prédios modernos, ruas limpas e a impressão de que o país está crescendo, pelo menos na capital. Paramos para almoçar no excelente e moderno Hotel Serena, um dos melhores de Kigali.

No final da tarde embarcamos num voo da RwandAir para Nairobi. São 1 hora e 20 minutos de voo até o destino. Voltamos para o Hotel Southern Sun Mayfair, onde tínhamos deixado parte da nossa bagagem.

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Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.
Comments (5)
Carlos
24 out 2020O dedicado trabalho dela ao proteger gorila é algo muito louvável. Porém, sabe-se que ela foi uma cruel racista que tinha um enorme desprezo pelas pessoas que por ali viviam – https://www.ladyscience.com/ideas/time-to-stop-lionizing-dian-fossey-conservation
Elielma
15 jan 2018Dian has certainly left an important mark on the world.
Abel Maria Pires Viana
01 set 2017simplesmente maravilhosa
Marcos Aurélio
02 ago 2017É triste saber que uma pessoa como ela se dedicou para preservação da espécie e acabou sendo morta!!
Emilia bue o
18 maio 2016Que trabalho maravilhoso e iluminado por Deus q tudo pode e assim tem pessoas q duvidam do seu poder e aí a preservação dos gorilas milagre de Deus e desse anjo Dian fossey