A comunidade indígena San Juan Chamula
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- joaquimnery
- 5 de janeiro de 2020
- América Destaques México
San Juan Chamula
09.11.2019
Estávamos em San Cristóbal de Las Casas e saímos para um tour até a comunidade indígena Chamula, na localidade de San Juan Chamula, a aproximadamente 10 quilômetros de San Cris. Passear por ali é uma das maiores experiências que se pode ter no México sobre essas comunidades indígenas de origem pré-colombiana e sobre a interação que possuem com a igreja católica.

As comunidades indígenas de Chiapas serviram de base para a Insurreição Zapatista que aconteceu em 1º de janeiro de 1994. Quando o Exército Zapatista de Libertação Nacional, EZLN, liderado pelo Subcomandante Marcos, tomou a cidade de San Cristóbal de Las Casas além de outras 4 cidades e mais de 600 propriedades rurais, correspondendo a 25% do território do Estado de Chiapas, incluindo a localidade de San Juan Chamula.

Subcomandante Marcos é um codinome que foi utilizado pelo professor e filósofo Rafael Sebastián Guillén Vicente, que só aparecia com o rosto coberto por uma máscara e tinha no cachimbo uma identidade marcante. MARCOS foi um nome enigmático criado por Rafael Sebastián Guillén Vicente para identificar as iniciais dos 6 municípios tomados pelo movimento zapatista naquele ano. Margarita, Altamirano, Rancho Nuevo, Comitan, Ocosingo e San Cristóbal.

A incrível Igreja de San Juan Chamula
Em San Juan Chamula existe uma bela igreja católica indígena, utilizada pelos nativos para praticar os seus rituais religiosos cheios de sincretismo. É uma pena não poder registrar com fotografias o que vimos em Chamula. É proibido fotografar dentro da igreja e eles levam muito a sério essa restrição, só pudemos “retinar”, pois eles acreditam que as fotografias podem retirar as suas almas. Uma pena, pois foi um dos lugares mais enigmáticos que já conheci. Quem a vê por fora, não imagina o que acontece lá dentro.

Dentro da igreja, os grupos familiares se reúnem pelo chão. Limpam o piso e colocam muitas velas com cores e tamanhos diferentes, para fazer uma espécie de altar privativo. Sentam-se num círculo ao redor das velas e começam a fazer orações usando idiomas nativos. Muitos deles falam o tzotzil, um idioma local que representa um dos povos desse imenso caldeirão étnico da região de Chiapas. Compartilham o posh com a família, um destilado a base de milho, que utilizam como alucinógeno e como forma de alcançar uma comunicação com o divino. Alguns se embriagam a tal ponto que caem no chão.

Não existem bancos na igreja. Os fiéis rezam sentados ou ajoelhados no chão. Todo o piso é coberto por folhas de pinho. No meio das folhas uma cobertura completa de velas de todos os tamanhos, deixa o ambiente ainda mais enigmático. A Igreja de San Juan é a perfeita tradução do sincretismo religioso dos povos indígenas da região de Chiapas, no México. Aos símbolos e ritos católicos misturam-se tradições milenares tribais, que foram transmitidas ao longo das gerações, apesar dos esforços dos missionários cristãos.

Alguns desses grupos realizam sacrifícios de animais dentro da igreja. Normalmente sem sangue. Torcem o pescoço das galinhas ou de outros animais que são oferecidos como presente ao divino. Conseguimos caminhar por entre os grupos em oração. Vimos uma galinha sendo preparada para o ritual. Impossível não se embriagar pelo clima de religiosidade do local.

Nas paredes laterais da igreja existem muitos nichos com imagens de santos da igreja católica. Muitos deles são ricamente ornamentados. Possuem espelhos pendurados no peito, cujo objetivo é refletir os maus espíritos. Tudo muito místico e com uma religiosidade incrível.

O padre católico só aparece na Igreja de San Juan uma vez por mês para realizar cerimônias de batismo. O “Mayor Domo” é uma espécie de líder religioso indígena dos pequenos grupos familiares. São responsáveis pelos rituais e pela manutenção dos altares laterais.

Do lado de fora da Igreja de San Juan existe uma pequena feira de artesanato local. Os chamulas usam uma roupa à base de lã de cordeiro. Saias para as mulheres e casacos para os homens. Brancos e negros.

A comunidade de Zinacantán
Saímos de Chamula e seguimos até a comunidade indígena de Zinacantán, onde visitamos também a igreja da comunidade. Muito parecida com a de San Juan Chamula, porém sem o primitivismo e restrições que encontramos na outra. Aí em Zinacantán conseguimos fotografar no interior da igreja.

Zinacantán se destaca pelo cultivo e venda de flores. Fomos até a casa de uma artesã, onde pudemos degustar tortilhas e outras iguarias mexicanas, além de conviver com o cotidiano local.

Saímos de Zinacantán e voltamos para San Cristóbal de las Casas. Caminhamos um pouco mais pelas ruas de pedestres e jantamos mais uma vez no Restaurante Lum do Hotel Bo.

Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.