Mucugê e a origem do garimpo na Chapada Diamantina
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- joaquimnery
- 22 de agosto de 2021
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O Projeto Sempre-viva
17de junho de 2021
Estávamos em Mucugê, na Chapada Diamantina. Saímos pela manhã para conhecer o Projeto Sempre-viva, que fica a 4 km da cidade e foi implantado para fomentar a preservação das plantas herbáceas que têm a característica de, mesmo depois de colhidas e secas, conseguirem resistir ao tempo por um longo período, sem perder a cor ou estragar e por isso levam o nome de “Sempre-Vivas”.

Graças a essa característica, as sempre-vivas foram bastante utilizadas na produção de buquês de flores para chapéus e para casamentos. Alguns desses buquês chegaram a durar mais de 60 anos e ajudaram a difundir a lenda de que os casamentos poderiam sobreviver ao tempo do buquê.

Existem centenas de espécies diferentes de sempre-viva. A Chapada Diamantina é o local de maior ocorrência delas no Brasil. Uma das espécies mais comuns no Brasil é o capim-dourado, que chegou a ser importante produto de exportação e que tem origem nessa região da Chapada.

Quando as minas de ouro e diamante esgotaram na região, uma boa parte da população local se dedicou ao extrativismo das sempre-vivas. Como a sua reprodução é mais lenta e complexa, o extrativismo trouxe uma grande ameaça à sobrevivência dessas espécies. Hoje, a exploração extrativa da sempre-viva é proibida e a atividade econômica da região está totalmente voltada para o ecoturismo e agricultura.

O Projeto Sempre-viva fica dentro do Parque Municipal de Mucugê, criado em 1999 e que tinha como um dos seus objetivos, proteger o ecossistema, em especial as espécies endógenas da região. Hoje, é uma forte atração para quem visita a cidade. Logo na entrada do Parque, existe um museu com exposições de arranjos de flores e buquês, além de fotos e mapas que tentam explicar a história da cidade e da Chapada Diamantina.

As Cascatas do Tiburtino
Dentro da área do Parque Municipal existem rios, trilhas e cachoeiras. A 5 minutos de caminhada a partir do centro de visitantes, chegamos na Cachoeira da Piabinha. Bem pequena, em determinados momentos do ano, se transforma num filete de água, mas formam-se poças d’água na sua base, excelentes para um banho de rio em família e pode-se contemplar o paredão que forma a Piabinha.

Seguindo uma trilha de fácil caminhada para 30 minutos mais adiante. Cerca de dois quilômetros, chegamos às Cascatas do Tiburtino. No caminho encontramos algumas sempre-vivas floradas. Um tesouro para o lugar.

O conjunto de Cascatas do Tiburtino, ficam no final de uma série de corredeiras do Rio Cumbuca, ao lado de Mucugê. Possibilita um banho seguro e relaxante. A cachoeira é pequena, mas formada por uma bela cortina de água que consegue congregar muitos visitantes ao mesmo tempo.

As cascatas deságuam num grande poço raso, onde também é possível nadar e tomar banho.

A mineração do diamante em Mucugê
O Rio Cumbuca foi área de garimpo. Os primeiros garimpeiros chegaram aí, em meados do século XIX. O cascalho do leito do rio era muito rico. Foi uma das áreas que mais produziu diamantes na história da mineração baiana. Foi a partir daí que a Chapada recebeu o nome de Diamantina.

Mucugê é uma das cidades mais antigas da Chapada Diamantina. Foi fundada no século XVIII. A descoberta das jazidas de diamante na região aconteceu em 1844. Quando a notícia chegou na capital, houve uma corrida do ouro para a região de Mucugê e os garimpos começaram a se estabelecer. Em 1848, a cidade já tinha cerca de 30.000 habitantes. A maioria trabalhava com o ouro e os garimpos se espalhavam pelos Rios de Contas e Paraguaçu. Mais tarde, a descobertas dos ricos garimpos de Lençóis espalharam a população por toda a região.

A decadência da mineração do diamante começou no final do século XIX, foi quando surgiram as primeiras lavouras e criações de gado nos arredores da cidade. A coleta da sempre-viva foi uma atividade econômica importante e complementar durante uma boa parte do século XX.

Depois de conhecer o Projeto Sempre-viva, voltamos para Mucugê, almoçamos na Pousada Refúgio da Serra e depois saímos para caminhar um pouco pela cidade, que estava enfeitada para o São João. As praças estavam decoradas com bandeirolas e outros adereços e as janelas e portas acompanhavam o estilo da decoração. Essa é uma tradição de Mucugê. O São João sempre foi uma festa muito forte na cidade e mesmo em tempos de pandemia, sem forrós ou bandas musicais em praça pública, a população local não deixou de decorar as suas casas.

O conjunto arquitetônico de Mucugê, formado por casarões e sobrados da segunda metade do século XIX, foi tombado pelo patrimônio histórico do país em 1980. A arquitetura dos casarões e sobrados está bem preservada. Circulando pela cidade, visitamos o Museu do Garimpo e fomos até a feira para levar para casa alguns produtos especiais.

Jantamos na Pousada e no dia seguinte pegamos a estrada de volta para Salvador.

Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.