Xique-Xique de Igatu: A vila de pedra da Chapada Diamantina
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- joaquimnery
- 17 de agosto de 2025
- Bahia Brasil Super Destaque
12 de julho de 2025
Mucugê – História, charme e acolhimento na Chapada Diamantina
Nesse retorno à Chapada Diamantina, o nosso objetivo era participar da vindima da Vinícola UVVA. Escolhemos ficar em Mucugê, pois era a localização mais estratégica, de melhor qualidade e mais próxima da Vinícola UVVA. Mucugê é uma das cidades da Chapada que mais preserva sua história. Fundada no início do século XIX, viveu o auge do ciclo do diamante, quando aventureiros e comerciantes de várias partes do mundo se instalaram na região em busca de riqueza. Com o fim do garimpo, entrou em decadência e só voltou a ganhar destaque quando o turismo começou a se desenvolver. Hoje, é reconhecida como patrimônio nacional tombado pelo IPHAN e se transformou em um destino que une memória, beleza natural e uma vida tranquila no coração das montanhas baianas.

O Refúgio da Serra Boutique Hotel
Ficamos hospedados no Refúgio da Serra Boutique Hotel, que faz jus ao nome. Localizado em uma área tranquila, cercada de verde e com vista para as montanhas, oferece o aconchego ideal depois da longa viagem. Quartos confortáveis, café da manhã farto e a hospitalidade típica do interior baiano marcam a estadia, tornando-a um complemento essencial para a experiência em Mucugê.

A decoração do São João
Durante o mês de junho, Mucugê ganha ainda mais vida com a decoração do São João. Bandeirolas coloridas, balões e luminárias se espalham pelas ruas, criando uma atmosfera alegre que combina com o frio da serra e com as tradições nordestinas. O casario colonial serve de cenário perfeito para a festa, que transforma a cidade em um palco de música, fogueiras e encontros animados entre moradores e visitantes.

Xique-Xique de Igatu
De Mucugê seguimos viagem até Xique-Xique de Igatu, uma pequena vila que pertence ao município de Andaraí e que guarda uma das histórias mais fascinantes da Chapada Diamantina. Conhecida como a “Machu Picchu baiana”, Igatu é uma antiga vila de garimpeiros que prosperou no século XIX com a exploração do diamante e depois foi praticamente abandonada com o fim do ciclo. O resultado é um cenário impressionante, marcado pelas ruínas de pedra que resistem ao tempo e que hoje contam silenciosamente a memória de uma época de riqueza e sofrimento.

O acesso a Igatu
O acesso à vila é feito por uma estrada de pedra que já dá o tom da experiência e precisa ser percorrida muito lentamente. Ao chegar, a vida parece desacelerar. A pracinha central é o ponto de encontro, cercada de casinhas preservadas, cafés e ateliês. Dela se tem fácil acesso a alguns dos principais atrativos, como o Cemitério Bizantino de Igatu, com suas pequenas capelas brancas em estilo gótico, semelhantes ao de Mucugê, mas igualmente marcantes pela singularidade.

As casas dos garimpeiros
As ruínas das casas de garimpeiros são um dos destaques mais impressionantes. Caminhar entre aquelas paredes de pedra é imaginar o cotidiano duro de homens e mulheres que dependiam do garimpo para sobreviver. As histórias de riqueza súbita e de tragédias humanas se misturam, e o silêncio das ruínas se transforma em um testemunho vivo do passado.

O ciclo do diamante na Chapada Diamantina
A história de Igatu está profundamente ligada ao ciclo do diamante na Chapada Diamantina, que teve início em meados do século XIX. O primeiro grande achado na região ocorreu em 1844, quando garimpeiros descobriram diamantes nos rios e serras da Chapada. A notícia se espalhou rapidamente e transformou vilas como Andaraí, Lençóis e Igatu em polos de mineração que atraíram aventureiros, comerciantes e imigrantes de várias partes do mundo.

A importância de Igatu
No auge do garimpo, por volta da década de 1870, Igatu chegou a ter mais de 9 mil habitantes e uma vida urbana surpreendente para uma vila isolada no sertão baiano: existiam dois cinemas, dezenas de casas comerciais e uma intensa vida cultural e social. Estima-se que nessa época a região da Chapada tenha sido responsável por uma parcela significativa da produção mundial de diamantes, abastecendo mercados da Europa.

A decadência de Igatu
Com a proibição da extração manual e a queda no valor do diamante no início do século XX, a atividade entrou em declínio. As jazidas mais ricas foram se esgotando, e as famílias de garimpeiros começaram a abandonar a vila. Nos anos 1960 e 1970, Igatu já tinha perdido grande parte de sua população e ficou conhecida como a “cidade de pedra”, marcada pelas ruínas de antigas casas de garimpeiros. Hoje, com pouco mais de 400 moradores fixos, Igatu sobrevive do turismo, do artesanato e da arte, mantendo viva a memória do garimpo não apenas nas pedras que ficaram para trás, mas também nas histórias preservadas pelos habitantes e nos espaços culturais que celebram esse passado.

A vista panorâmica do Rio Paraguaçu
Do alto da vila dos garimpeiros, temos uma vista panorâmica do Rio Paraguaçu, que corta a região serpenteando entre vales e montanhas. Dali é possível compreender a importância desse rio não só para a geografia, mas também para a vida e para a história do garimpo, já que muitas pedras preciosas eram encontradas em suas margens.

A Galeria Arte e Memória
Entre as ruínas de Igatu, encontra-se a Galeria Arte e Memória, um verdadeiro museu a céu aberto. O espaço integra o patrimônio histórico com a arte contemporânea, abrigando esculturas, instalações e exposições que dialogam com o cenário rústico e imponente da vila. Boa parte das obras expostas são do artista plástico Marcos Zacariades, que mora em Igatu e faz da vila sua inspiração. Suas criações, espalhadas entre pedras centenárias, transformam as ruínas em um ambiente de contemplação e reflexão, onde o passado e o presente se encontram em perfeita sintonia.

A exposição fotográfica de Rafael Martins
Entre as surpresas culturais de Igatu, tivemos a chance de visitar uma exposição fotográfica de Rafael Martins, que traz um olhar sensível sobre a Chapada Diamantina e seus habitantes. Suas imagens capturam a relação íntima entre as pessoas, a pedra e a natureza, reforçando a ideia de que Igatu é mais do que um patrimônio histórico: é também um espaço de resistência, memória e arte. As fotografias, expostas em meio ao cenário rústico da vila, dialogam perfeitamente com as ruínas e com o espírito de contemplação que o lugar desperta.

As folhas secas de Dona Tuninha
Igatu também é marcada pela força da arte popular. Um exemplo é o trabalho de Dona Tuninha, reconhecida como Mestra de criações espetaculares, como peças únicas a partir de pedras e de folhas secas, transformando elementos simples do cotidiano da Chapada em obras carregadas de simbolismo. Seu trabalho reflete a memória do garimpo, a religiosidade e o imaginário sertanejo, mantendo viva a identidade da comunidade através da arte.

Um patrimônio cultural e natural inestimável
Visitar Igatu é como entrar em um capítulo vivo da história da Chapada Diamantina. Uma vila que já teve mais de 9 mil habitantes e chegou a ter dois cinemas, hoje abriga pouco mais de 400 moradores, mas conserva um patrimônio cultural e natural inestimável. É um lugar que convida a refletir sobre a efemeridade da riqueza e sobre a força da natureza e do tempo, que tudo transforma, mas também preserva.

A Pousada Pedras de Igatu
Seguimos para visitar amigos e almoçar na Pousada Pedras de Igatu, um refúgio que traduz a essência da vila. Construída em meio às pedras que caracterizam a paisagem local, a pousada combina rusticidade e conforto, criando um ambiente acolhedor que se integra perfeitamente ao cenário. Foi o ponto de descanso ideal depois de explorar as ruas de pedra, as ruínas e os espaços culturais da vila.

O Restaurante Paraguassu
Voltamos para Mucugê no final da tarde. Tivemos uma noite especial. O jantar com menu degustação do Restaurante Paraguassu, comandado pelo chef André Chequer, que trouxe para a cidade a proposta de alta gastronomia inspirada nos sabores da Chapada Diamantina. O menu degustação é de grande criatividade e valoriza os ingredientes regionais, apresentados em pratos sofisticados e cheios de personalidade. Cada etapa do jantar foi uma viagem sensorial que uniu tradição e inovação, em perfeita sintonia com o ambiente intimista do restaurante. A experiência mostrou que Mucugê não encanta apenas pela natureza e pelo patrimônio histórico, mas também pelo paladar refinado que encontrou no Paraguassu, a sua melhor expressão.

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Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.


