O Dia dos Mortos na Cidade do México
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- joaquimnery
- 8 de dezembro de 2019
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02.11.2019
Coyoacán
Coyoacán significa Terra dos Coiotes. O atual subúrbio de Coyoacán na Cidade do México, foi no passado, uma pequena cidade asteca, às margens do Lago Texcoco e ligada à capital Tenochtilán. Depois de destruir Tenochtilán, Hernán Cortés, o conquistador espanhol, instalou o seu quartel general aí, enquanto construía a Cidade do México sobre as ruínas de Tenochtilán, com os padrões espanhóis da época.

Estávamos em Coyoacán, visitando o Museu Frida Kahlo. Na saída, seguimos passeando pelo bairro que ainda preserva os traços da arquitetura colonial. O bairro atrai muitos turistas pela sua riqueza histórica e cultural, pelas ruas e praças charmosas. Existem muitas lojas de artesanatos, galerias de arte e lembranças do México, além de restaurantes e bares.

Coyoacán tem uma forte ligação com intelectuais, boêmios e artistas. Os artistas mexicanos Frida Kahlo e Diego Rivera viveram aí. Uma das atrações do bairro é a Feira e o Mercado de artesanato. A Praça Hidalgo na parte mais central do subúrbio fica bastante movimentada, sobretudo nos finais de semana. O artesanato mexicano é rico e colorido. A morte é um tema muito utilizado, em função da tradição do Dia dos Mortos. É representada com humor e às vezes de forma bastante colorida.

Outra tradição forte do México é o consumo das comidas de rua. O país inteiro cultua essa característica e as opções estão por todos os lados. Tacos, fajitas, quesadillas e tortillas atraem turistas e locais. Paramos num pequeno restaurante de beira de rua, para provar as fajitas com carnes cozidas. Cérebro de boi, tripa, fígado e outras iguarias eram servidos ali como um manjar. A pimenta é um tempero comum e necessário para dar mais sabor à exótica comida mexicana.

O Dia de Los Muertos
Deixamos Coyoacán e pegamos um UBER de volta para a Avenida Paseo de la Reforma onde estava acontecendo o grande desfile do Dia dos Mortos. A avenida estava lotada por uma multidão que foi ali para assistir ao desfile. Nós decidimos ir para o México após assistir ao desenho animado da Pixar: Viva, A Vida é Uma Festa. O filme conta uma história cheia de emoções que usa como “pano de fundo”, as tradições do Dia de Los Muertos do México.

A tradição dos mexicanos em cultuar a morte vem das civilizações pré-colombianas da Mesoamérica. Os espanhóis que passaram a viver no México se apropriaram dessa cultura e adequaram à sociedade mexicana. Segundo a tradição popular, os mortos costumam voltar para os seus familiares e amigos no Dia de Finados. As famílias se preparam para receber os seus entes queridos enfeitando altares e oferendas com muitas flores, velas e incensos.

Nas oferendas são colocadas fotos dos mortos, queridos, da família e dos donos das casas. As comidas que eles gostavam em vida e objetos que estiveram intimamente relacionados com a vida e hábitos dos mortos. A Festa dos Mortos não é um evento triste. É animada, costuma ter música e dança. Acontece no país inteiro e pode durar até uma semana em alguns locais.

Normalmente, no dia 31 de outubro, as famílias recebem amigos, vizinhos e familiares para reverenciarem os seus mortos. No dia 01 de novembro, acreditam que as almas das crianças voltam para conviver com as suas famílias e no dia 02 de novembro voltam as outras almas dos mortos que estão sendo homenageados. Depois partem de volta para o inframundo e só retornam no ano seguinte.

Os cemitérios são também bastante decorados. Cada família limpa e pinta os túmulos onde foram enterrados os seus entes queridos e colocam flores e enfeites no lugar.

As crianças participam ativamente do Dia dos Mortos. Vestem-se de caveiras e roupas com esqueleto.

Na Cidade do México acontece um grande desfile no dia 02 de novembro. No desfile do Dia dos Mortos existem várias alas com fantasias diferentes que estão acompanhadas de muita música, dança e manifestações dos participantes.

Algumas alas que participam do desfile trazem as “catrinas”. La Catrina foi o nome dado aos esqueletos bem-vestidos desenhados pelo artista José Guadalupe Posada que ajudou a fomentar a fascinação mexicana pela morte. Posada fez os seus primeiros desenhos numa crítica à classe alta da sociedade mexicana, que após a Revolução, perdeu poder econômico, mas continuava a ostentar belos vestidos em belas mansões.

Alguns carros alegóricos acompanham o desfile apresentando imagens dos “alebrijes”, animais que foram se tornando símbolos do Dia dos Mortos. Os primeiros alebrijes surgiram a partir de 1936, quando o artista plástico mexicano Pedro Linares López começou a produzir alguns artesanatos representando animais fantásticos e imaginários. A característica maior dos alebrijes é serem pintados com cores fortes e vibrantes. Muitos desses animais fantasiosos são criados a partir da mistura de vários outros.

Pela calçada uma multidão acompanha ao desfile. Mexicanos e turistas, pintam o rosto de caveiras, para entrar no clima do Dia dos Mortos.

O desfile segue pela Avenida Paseo de la Reforma e termina na praça central da cidade. O Zócalo. No centro do Zócalo existiam quatro grandes oferendas que complementavam o clima do desfile.

Depois do desfile voltamos andando para o hotel. Uma multidão seguia em direção contraria, para ver o final da festa no Zócalo. Jantamos no restaurante The Capital Grille, ao lado do hotel.

Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.