Turismo e cultura, o desenvolvimento pode ser por aí
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- joaquimnery
- 16 de dezembro de 2012
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Artigo publicado no Jornal O Correio em dezembro de 2012.
No excelente livro 1808, que relata os anos e impactos provocados pela vinda da Família Real para o Brasil, o historiador/escritor Laurentino Gomes conta sobre os encantos da escritora inglesa Maria Graham quando chegou a Salvador a bordo de um navio que vinha da Europa, no início do século XIX e descreveu a cidade como algo espetacular, encantador, de uma beleza imponente e épica. Todas essas impressões foram descritas antes do desembarque. Maria Graham estava impressionada com o “paredão” que separa a Cidade Alta da Cidade Baixa e com a composição arquitetônica nos entornos do talude.

Tive a oportunidade de ver Salvador do mar, não apenas a partir da Baía de Todos os Santos, mas de todos os seus cantos, de Paripe a Itapoan. Tive as mesmas impressões da escritora inglesa. A cidade é divina em todos os sentidos. Numa travessia atlântica de Salvador a Veneza, parando em vários portos do mundo, talvez seja bairrismo, mas não seria exagero dizer, que do mar, Salvador é a mais bonita.

Maria Graham desembarcou no porto de Salvador e teve uma imensa decepção com as condições que viu em terra, da bela cidade que via do mar. Desorganização urbana, esgotos a céu aberto, sujeira por todos os lados. Nós que vivemos por aqui não temos como nos decepcionar mais. Estamos no meio da desilusão.
Desilusão não se aplica a um povo alegre, que no dia 02 de dezembro, Dia do Samba, comemora o início de um ciclo de festas que só para na quaresma. A festa de Santa Bárbara puxa o vermelho do verão. Na sequência, N. Sra. Da Conceição da Praia, Santa Luzia, Bom Jesus dos Navegantes na Boa Viagem, os Ternos de Reis da Lapinha, Bonfim, Pituba, Itapoan, Yemanjá no Rio Vermelho e chegamos ao apogeu com o Carnaval. Todas estas são festas com forte apelo cultural, ferramentas essenciais para uma cidade que precisa do turismo.

Salvador tem uma geografia privilegiada. As encostas da Vitória e o “paredão” que separa a Cidade Alta da Cidade Baixa, cumeado pelas torres das igrejas barrocas, formam um cartão postal raro, na borda de uma das mais belas baías do mundo. A forma peninsular nos dá uma orla extensa, com águas mornas e uma bela faixa de areia que encanta visitantes e locais que observam o horizonte, de costas para a cidade. Olhar Salvador de costas para a cidade, no momento atual pode nos dar a mesma ilusão que teve Maria Graham.

Salvador tem uma geografia ingrata. A forma peninsular e o esgotamento do território não nos permite outras atividades econômicas como o agronegócio e a indústria. Não temos território suficiente para isso. Poucas são as nossas chances de desenvolvimento. Com essa perspectiva, a iniciativa da nova prefeitura que está vindo por aí em buscar o desenvolvimento através do Turismo e da Cultura é muito bem vinda.

Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.