Caímos no “conto do casaco de couro”, em Roma
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- joaquimnery
- 14 de setembro de 2014
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- Destaques Europa Itália
18/01/1992
Saímos às 9h da manhã no ônibus do hotel que fazia um transporte regular para a Praça de São Pedro onde pegamos um taxi para as Termas de Caracala. Percorremos as ruínas do prédio gigantesco construído entre 212 e 217 d.C. pelo Imperador Caracala que viveu no início da decadência do Império Romano.

O conjunto podia receber mais de 1.500 pessoas por vez e é um perfeito exemplo das grandes termas imperiais, onde aconteciam os antigos banhos da corte, com piscinas térmicas e saunas utilizadas na época para festas, orgias e práticas esportivas.

As Termas de Caracala possuíam uma grande riqueza de decoração e eram famosas pelas obras que continham. Grande parte da sua estrutura ainda encontra-se preservada.

Elas somente deixaram de funcionar após a destruição dos aquedutos que alimentavam a sua estrutura, em 537 d.C.,, pelo Rei Godo, Vitige, durante as Guerras Góticas com o Imperador Justiniano, que buscava recuperar a região da Itália para o Império Romano do Oriente.

Ao sairmos das Termas de Caracala fomos andando em direção ao Circo Máximo, quando chegamos na primeira esquina, aconteceu o fato mais surpreendente da viagem até aqui.

Ao pararmos numa sinaleira, um carro esportivo parou ao nosso lado e o senhor que estava dirigindo abriu o vidro para pedir informações. Fiz sinal que não era da cidade, mas mesmo assim ele nos abordou falando em inglês e perguntando onde ficavam as Termas de Caracala, pois precisava visitá-las para conhecer o local que iria ser cenário de um filme publicitário da Pierre Cardin.
Começamos a responder, pois tínhamos acabado de sair de lá, quando ele nos disse que era francês e gerente da grife Pierre Cardin, em Paris, e nós dissemos que éramos do Brasil. Rapidamente, para a nossa surpresa ele passou a falar em um bom português e disse que a sua esposa era mineira. De imediato perguntou a minha altura e o número do meu manequim. Pegou uma sacola com dois casacos de couro de cervo. Segundo ele os casacos, nas lojas, tinham um valor aproximado de U$ 1.300,00.
Agradeceu a nossa gentileza e nos deu os casacos de presente, argumentando que eram do mostruário de 1991. Peças que haviam sobrado de uma feira e que iria nos presentear, nos desejando boa viagem e um beijo para o Brasil. Em seguida nos pediu ajuda, dizendo que precisava ir para Paris e como era domingo, não conseguia trocar dinheiro e o seu cartão de crédito não estava funcionando. Precisava de dinheiro para por combustível até a fronteira com a França.
Nos sentimos solidários com o seu problema e demos a ele todo o dinheiro que tínhamos, ficando apenas com o suficiente para pegar um taxi de volta para o hotel. Felizmente tínhamos em liras, apenas o equivalente a U$ 150,00. Ele pegou o dinheiro rapidamente e saiu em disparada deixando os casacos em nossas mãos.
Ficamos assustados com o presente e da forma como tudo aconteceu e pegamos um taxi de volta para o hotel. Passamos o resto da viagem assustados com esse fato e com medo de usar os casacos, pois não sabíamos as suas origens e achávamos que poderia haver algumas irregularidade com eles.

Seis meses depois de chegar ao Brasil, recebemos Sebastião Nery em nossa casa em Salvador. Sebastião tinha nos hospedado no início dessa viagem e havia sido Adido Cultural do Brasil em Roma. Começamos a contar as histórias da viagem e somente aí soubemos que esse era um golpe muito comum em Roma.
Eles lhe entregam casacos obtidos em pontas de estoque e tentam extorquir dinheiro contando alguma história que envolva os turistas. Felizmente tínhamos pouco, mas outros turistas chegam a entregar os U$ 1.300,00, argumentados como sendo o valor dos casacos nas lojas. Deixamos os casacos no hotel e saímos mais uma vez.

Almoçamos nas margens do Rio Tibre e seguimos a pé até os Fóruns Romanos onde percorremos todas as instalações das ruínas e voltamos para o hotel onde jantamos. No dia seguinte seguiríamos para Nice.
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Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.
Comments (3)
João Novaes
16 jun 2015Incrível, aconteceu a mesma coisa comigo há uns 14 anos, em Paris, e o cara era italiano! Mesmo papinho esquisito, mesma desculpa, na hora que disse que pediu pra passar no caixa eletrônico disse que não, dei um migué, disse que não podia e tinha pouco dinheiro. O cara foi ficando irritado, pediu o casaco de volta, eu perguntei “ué, não era presente? o que está acontecendo?”. Preocupado com o tempo parado e minha irritação para com ele (pouco me importavam os casacos), foi embora dizendo que eu era uma vergonha, e me deixou com as roupas. Fiquei também MUTI irritado por ter chegado tão perto de levar um golpe. Minha mãe quando soube ficou desesperada, achando que havia drogas dentro das roupas. E olha como são as coisas: um casaco não servia, o outro esqueci numa cadeira anos depoisnuma balada e, quando vi, foi roubado. Coisas da vida!
joaquimnery
15 set 2014Jucá,
O golpe é muito comum e algumas pessoas perdem muito. Fica a dica.
José Jucá Júnior
14 set 2014Aconteceu de tentarem me aplicar esse mesmo golpe! Vejo pela sua narrativa o quanto ele é então muito comum! O cara pediu-me em troca, apenas ajuda para encher o tanque do carro. Super desconfiado e sentindo tratar-se de um golpe, não aceitei o casaco nem lhe dei nenhum dinheiro, o que o deixou MUITO irritado!