A Rota do Cangaço em Piranhas
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- joaquimnery
- 24 de maio de 2022
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15 de março de 2022
A cidade na beira do rio
Estávamos na cidade de Piranhas, no sertão do estado de Alagoas, na margem esquerda do Rio São Francisco, na divisa com Sergipe. Uma cidade pequena, com pouco mais de 25 mil habitantes, famosa por ter sido palco de algumas passagens marcantes do cangaço nordestino. Foi em Piranhas que as cabeças de Lampião e Maria Bonita, além de outros cangaceiros, ficaram expostas ao público, depois de decepadas.

As atrações
É de Piranhas que saem os principais passeios para a Grota do Angico, onde o bando de Lampião foi emboscado e muitos deles foram mortos. É também a principal base de apoio para os passeios que levam ao Lago de Xingó e a seus cânions. Piranhas é uma cidade tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, uma boa parte do seu casario data do século XIX. É muito charmosa, o centrinho com ruas de paralelepípedos é uma delícia para passear.

O Caís de Piranhas
Seguimos para o Cais de Piranhas onde pegamos um barco que nos levou até a Barraca de Angico, 20 minutos rio abaixo, localizada no município de Poço Redondo, em Sergipe. O Rio São Francisco estava exuberante, bastante cheio, pois as comportas das barragens de Sobradinho, Paulo Afonso e Xingó estavam abertas e liberavam um grande volume de água.

A Rota do Cangaço
A partir da Barraca de Angico, seguimos por um tour, a pé, através de uma trilha no meio da caatinga denominado de Rota do Cangaço. São 700 metros de caminhada até a Grota de Angico, onde aconteceu a chacina do bando de Lampião.

A volante de Alagoas
O roteiro é acompanhado por uma excelente guia vestida de cangaceira, que vai nos contando histórias do cangaço e da tragédia que aconteceu ali. A trilha, provavelmente foi a mesma percorrida pela “volante” que seguiu em busca do bando de Lampião. Volante era o nome dado aos pelotões de soldados e oficiais que percorriam os sertões na caça aos cangaceiros.

O coiteiro de Lampião
A Barraca de Angico é um local aprazível, com restaurante, lojinha e local para banho. Tanto a barraca como o passeio pela Rota do Cangaço, são explorados, hoje, pelos herdeiros e familiares do “coiteiro”, Pedro de Cândido, que escondeu o bando de Lampião na Grota do Angico. Coiteiro era o nome dado às pessoas que escondiam e/ou protegiam os cangaceiros. A guia do passeio nos contou que Pedro de Cândido foi torturado pela volante de Piranhas e delatou o local onde o bando ficava escondido.

A delação de Pedro de Cândido
A história do cangaço conta que o Pedro de Cândido foi até a feira de Piranhas a fim de comprar mantimentos para o grupo de Lampião. Os feirantes desconfiaram da quantidade de produtos comprados por ele, que tinha uma família pequena. A suspeita era que Pedro estaria comprando mantimentos para o grupo de Lampião, que sabia-se estar escondido nas redondezas. Durante o interrogatório de Pedro de Cândido, conta-se que a cada pergunta não respondida, ele perdia uma unha. Depois de torturado, contou sobre o esconderijo do grupo.

A Grota do Angico
A Grota do Angico é um leito seco de rio, com uma pequena gruta, que serviu de esconderijo para o bando. No dia 28 de julho de 1938, a volante de Piranhas chegou de madrugada e surpreendeu os cangaceiros que ainda estavam acordando. O bando era formado por 35 cangaceiros, onze deles foram mortos e decapitados no local, dentre eles, Lampião e Maria Bonita, 24 conseguiram fugir.

As cabeças decepadas
As cabeças dos onze cangaceiros decapitados foram exibidas como troféus em várias cidades do Nordeste e expostas na escadaria da prefeitura de Piranhas. Depois transferidas para o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues em Salvador, onde ficaram por mais 31 anos. Em seguida foram enterradas no Cemitério Quinta dos Lázaros, também em Salvador. Em 2002, a filha de Lampião, Expedita Ferreira Nunes, conseguiu na justiça o resgate dos crânios de Lampião e Maria Bonita e os enterrou em um cemitério em Aracaju. Não existem informações oficiais sobre o local.

Os mistérios da chacina
Dentre as dúvidas e contradições sobre esse episódio importante da história do cangaço, não se sabe como foram pegos de surpresa, pois existiam vigias que ficavam de plantão para a proteção do grupo, além de cachorros que acompanhavam o bando. Nem os vigias nem os cachorros deram o alarme e os cangaceiros foram surpreendidos, quase sem reação.

A Barraca de Angico
Na volta da trilha paramos numa casa de taipa, transformada num pequeno museu, com utensílios e pertences de época. Muitos turistas aproveitam esse momento para um refrescante banho de rio. Não foi o nosso caso, pois tínhamos apenas um dia a mais e planejávamos ir até a Cachoeira de Paulo Afonso.

Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.