A geração de energia no Rio São Francisco
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- joaquimnery
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15 de março de 2022
De Piranhas até Paulo Afonso
Depois de visitar a Grota de Angico a partir de Piranhas, em Alagoas, seguimos direto para a cidade de Paulo Afonso, o objetivo maior dessa nossa viagem ao sertão da Bahia, Sergipe e Alagoas. Fizemos o trajeto de Piranhas até Paulo Afonso em uma hora e meia, pelas estradas de Alagoas, seguimos por 75 km pela AL220, que estava em bom estado de conservação.

A Cachoeira de Paulo Afonso secou
Com a construção das barragens de Paulo Afonso e posteriormente Sobradinho, o Rio São Francisco foi represado para regularização de vazão e geração de energia e o fenômeno das cachoeiras desapareceu. O leito do rio secou. Passou a ficar visível apenas quando as comportas das usinas da CHESF são abertas.

A Cachoeira de Paulo Afonso reapareceu
As chuvas intensas do verão de 2022, na Bahia e sobretudo em Minas Gerais, no alto curso do rio, provocou a necessidade da abertura das comportas, pois o Lago de Sobradinho chegou a 90% da sua capacidade e precisou liberar parte da água represada. As cachoeiras ressurgiram em sua plenitude. Há 12 anos elas não apareciam para contemplação dos visitantes. O conjunto é formado por várias quedas d’águas que alcançam até 80 metros de altura.

O restaurante Rancho da Carioca
Chegamos em Paulo Afonso e fomos direto para o restaurante Rancho da Carioca na beira do Rio São Francisco, onde marcamos encontro com alguns amigos que vinham de Salvador e continuariam a viagem conosco. O restaurante fica num local aprazível, na margem do rio. Almoçamos por aí e provamos o surubim. Uma iguaria do Rio São Francisco. Após o almoço, seguimos para a agência de turismo Maria Bonita que contratamos para nos acompanhar na visita às instalações da CHESF (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), de onde se tem as melhores vistas da Cachoeira de Paulo Afonso.

Paulo Afonso
A cidade de Paulo Afonso possui um traçado urbano planejado e bem resolvido. É limpa e organizada. A renda que obtém dos tributos arrecadados da própria CHESF ajuda na manutenção da cidade. O centro da cidade fica numa ilha artificial que surgiu com a implantação da Usina Paulo Afonso IV. O lago formado a partir da implantação da usina da um charme especial a Paulo Afonso.

A Usina de Delmiro Gouveia
A história entre Paulo Afonso e a geração de energia para o Nordeste começou com o empresário Delmiro Gouveia em 1913 que inaugurou uma pequena usina hidrelétrica na localidade de Angiquinho, na margem esquerda da Cachoeira de Paulo Afonso, encravada na rocha e passou a gerar energia para atender à sua fábrica de tecelagem e à vila operária da localidade de Pedra, atual município de Delmiro Gouveia em Alagoas.

D. Pedro II em Paulo Afonso
Em outubro de 1859, o imperador D. Pedro II foi até a Cachoeira de Paulo Afonso. A viagem fez parte do seu desejo em conhecer melhor o território brasileiro. Saiu do Rio de Janeiro, passou por Salvador e continuou viagem até Sergipe, seguindo então até Paulo Afonso. A visita de D. Pedro II ao sertão da Bahia e à Cachoeira de Paulo Afonso despertou para o país algumas das principais necessidades da região, que mais tarde seriam amenizadas pelos projetos do São Francisco. O rio poderia ser utilizado para geração de energia elétrica, projetos de irrigação e transporte fluvial, integrando o Nordeste ao Sudeste brasileiro.

As primeiras hidrelétricas
A Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) foi criada em 1948 com o objetivo de produzir energia para a Região Nordeste, a partir do aproveitamento do potencial hidráulico da cachoeira de Paulo Afonso. O principal objetivo era superar a necessidade de energia do Nordeste brasileiro. São quatro grandes unidades geradoras de energia que atuam de forma integrada. As Usinas de Paulo Afonso I, II, III e IV.

As hidrelétricas do São Francisco
Quando a CHESF chegou a Paulo Afonso para a construção da barragem e das usinas, a cidade era um pequeno vilarejo praticamente desabitado, pertencente ao município de Glória. Hoje é prospera e possui aproximadamente 110 mil habitantes. A Usina de Paulo Afonso I foi inaugurada em 1955 pelo então presidente João Café Filho. Além das 4 Usinas de Paulo Afonso, o Rio São Francisco ainda tem outras quatro no seu médio e baixo curso. As usinas são: Sobradinho, Apolônio Sales (Moxotó), Luiz Gonzaga e Xingó. Xingó é a de maior capacidade de geração de energia, com 3,2 MW de potência.

A Barragem de Sobradinho
Sobradinho foi um projeto especial que teve como principal objetivo a regularização do fluxo de águas do rio em direção ao baixo curso. Essa regularização foi fundamental para o maior e melhor aproveitamento da geração de energia no médio curso, pois com Sobradinho, o volume dos lagos das outras hidrelétricas que ficam a jusante, está sempre cheio, otimizando a geração de energia.

O maior lago artificial do Mundo
O complexo das hidrelétricas e sobretudo o Lago de Sobradinho contribuiu também para melhorar a navegabilidade do Rio São Francisco, ampliar os projetos de irrigação e viabilizar o projeto de transposição das águas em direção a áreas remotas do Nordeste brasileiro. Dentre os problemas desencadeados pela construção do Lago de Sobradinho destacam-se a grande área de inundação do maior lago artificial do mundo e suas consequências ambientais, como o desaparecimento sazonal da Cachoeira de Paulo Afonso.

O Touro e a Sucuri
Saímos do complexo da CHESF e fomos até um dos monumentos mais famosos da cidade. O Touro e a Sucuri. Uma escultura feita por Diocleciano Martins de Oliveira, inspirado no poema de Castro Alves, “O Touro e a Sucuri”, que representa o esforço feito pelo homem para desviar o curso do Rio São Francisco aproveitando as quedas d’água para gerar energia. A Sucuri representa o rio com a sua força e beleza naturais. O Touro representa a ação humana apoiada pela ciência e tecnologia. A engenharia tentando dominar a natureza.

A Cachaçaria Altemar Dutra
Depois de contemplar a magnífica força da natureza representada pela Cachoeira de Paulo Afonso, voltamos para a cidade de Piranhas. À noite fomos ao centrinho histórico e jantamos no restaurante descontraído, no meio da calçada, Cachaçaria Altemar Dutra.

Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.
Comment (1)
Evandro
01 jun 2022É preciso conservar as hidroelétricas qye existem no Brasil. Mas, e preciso parar de construi-las, pois elas adoecem os rios. Focar, no Brasil todo, as usinas solares, pois há sol para isso, alem de serem mais baratas nas construções e manutenções.