O Instituto Inhotim – Parte 3
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07 de agosto de 2021
Piscina, de Jorge Macchi
Esse é o terceiro post que escrevo sobre a visita a Inhotim. Estávamos percorrendo as galerias quando paramos para admirar a obra “Piscina”, do artista plástico argentino Jorge Macchi. Jorge Macchi costuma desenhar objetos do cotidiano. Na obra “Piscina”, de 2009, o artista transporta para os jardins de Inhotim, uma das suas aquarelas. Uma imensa agenda telefônica de caderneta, com índice alfabético, que avança com os degraus em forma de escada.

Elevazione, de Giuseppe Penone
Essa obra fica em destaque no meio de um imenso gramado descampado. Elevazione é uma obra de 2001 e mostra o interesse de Giuseppe Penone pela natureza. Ele imaginou e colocou uma imensa castanheira centenária, morta e encontrada tombada nos jardins do Palácio de Versalhes, na França. A árvore foi moldada e posteriormente fundida em bronze. Penone pendurou a escultura a 3 metros de altura, apoiada por raízes e suportes de aço conectados com árvores nativas. A ideia era fazer com que a escultura da árvore morta fosse subindo juntamente com as árvores nativas anexas à medida em que elas iam se desenvolvendo, criando a imaginação de que estaria sendo sustentada pelas árvores naturais.

Cildo Meireles em Inhotim
A próxima visita que fizemos foi aos trabalhos do artista carioca Cildo Meireles. Cildo se destacou com obras que faziam severas críticas ao período da Ditadura Militar no Brasil. Possui várias obras em Inhotim. Um dos destaques é “Através”, um trabalho de 1989. O visitante é estimulado a caminhar sobre cacos de vidro através de vários elementos como: Grades de rua, grades de prisão, cortina de banheiro, porteiras, cercas, etc., que servem de barreiras para um caminho que leva a um objetivo final no centro da obra, “a nuvem”, caso as barreiras sejam ultrapassadas.

Na obra “Glove Trotter”, de 1991, Cildo Meireles utiliza bolas de diferentes tamanhos e esportes, que ficam cobertas por uma malha de aço, que dá ao conjunto da obra, um aspecto de superfície lunar, com montanhas de tamanhos diferentes. É o resultado do efeito provocado por uma iluminação especial sobre as bolas cobertas pela malha de aço.

No meio do paisagismo espetacular de Inhotim, encontramos mais uma obra de Cildo Meireles. A “Inmensa”, de 2002. Um conjunto de mesas e cadeiras de tamanhos e proporções diferentes que se sobrepõem como peças de lego, ou um enorme mobiliário de brinquedo. “In Mensa” em latin significa “sobre a mesa”, mas a sonoridade traduz a obra, que se encaixa perfeitamente nos jardins de Inhotim.

A “True Rouge”de Tunga
O artista plástico pernambucano Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, conhecido como Tunga, foi um dos maiores companheiros, amigo e conselheiro de Bernardo Paz. Possui uma das galerias de maior prestígio de Inhotim. A “True Rouge” é a queridinha dos visitantes. É um imenso pavilhão localizado na beira de um lago, com destaque na paisagem do Museu.

Dentro da construção, Tunga colocou um grande conjunto de vasos de vidro soprado, com tamanhos e formas diferentes, repousando sobre redes, passando uma ideia de equilíbrio e repouso e lembrando um ambiente de laboratório. Um grande conjunto de materiais diversos, como aço, cobre, vidro, tinta colorida, luz, seda e papel dão vida à obra vermelha de Tunga, inaugurada em 2002.


“Seção Diagonal” de Marcius Galan
Estávamos seguindo em direção à True Rouge, quando nos deparamos com uma das galerias de Inhotim, que possui trabalhos do artista plástico Marcius Galan, que nasceu nos EUA, porém filho de brasileiros. Veio ainda criança para o Brasil, onde viveu e teve a sua formação artística e profissional. O trabalho mais importante de Galan em Inhotim é denominado “Seção Diagonal”, e consiste num jogo de ilusão de ótica. Na prática é um cômodo básico com um jogo de pintura e iluminação, que nos dá a sensação de tri dimensão com uma secção diagonal, que de fato, não existe. A obra é interessante, pois estimula os visitantes a uma interação bem humorada. Quando entramos na sala, temos a sensação de que estamos em frente a um vidro, que na realidade , não existe, trata-se de uma pintura especial e jogo de luzes. Os visitantes brincam em tentar tocar na obra e fazem fotos para leva-la como recordação.

Galeria Doris Salcedo
Doris Salcedo é uma artista colombiana de reconhecimento internacional. Possui um pavilhão em Inhotim que foi inaugurado em 2008. Todo o seu trabalho flerta com as questões políticas internacionais e relatos de violência. A galeria de Inhotim possui a obra “Neither”, de 2004. A referência é a arquitetura dos campos de concentração. Uma grande sala branca, sem janelas, onde as paredes são penetradas por grades, que eventualmente saem para a superfície. Faz um diálogo permanente entre o externo e o interno. A segurança e o aprisionamento.

Galeria Miguel Rio Branco
O fotógrafo espanhol Miguel Rio Branco vive no Rio de Janeiro e viveu boa parte da vida por lá. Possui uma galeria especial em Inhotim que lembra os detalhes de um navio negreiro. No interior, destacam-se as fotos tiradas na localidade do Maciel de Baixo, anexo ao bairro do Pelourinho em Salvador, onde Miguel viveu por mais de um ano a adquiriu a confiança da comunidade para fazer o seu trabalho. As fotos foram tiradas em 1979, quando o Pelourinho era uma área bastante degradada antes da restauração do seu casario. São angustiantes e passam uma sensação de tristeza. A condição sub-humana das prostitutas do Maciel estão expostas ali, com grande naturalidade. São fotos chocantes.

Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.