Berlim – Cidades, pessoas e bicicletas
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- joaquimnery
- 1 de dezembro de 2012
- Alemanha Artigos Destaques Europa
Artigo publicado no jornal O Correio em novembro de 2012
Cheguei a Berlim numa terça-feira de setembro. Levei um susto com o aeroporto. Simples e pequeno, não combinava com a expectativa que tinha da Alemanha, somente algum tempo depois a “ficha caiu”, estávamos no Aeroporto Schönefeld, um dos dois que atende a cidade e o que fica na área da antiga Alemanha Oriental. Em 2013 será inaugurado um novo aeroporto, substituindo os que existem hoje.

Seguimos para o centro da cidade, apesar da distância chegamos com facilidade ao hotel. Não havia engarrafamentos, aliás pouquíssimos carros nas ruas, achei que era feriado, cheguei a perguntar ao taxista. Não era. Deixei as malas no hotel e segui andando pelas ruas, muitos berlinenses fazendo o mesmo. Calçadas largas e ciclovias, pessoas e bicicletas por todos os cantos. Poucos carros. A ausência de engarrafamentos e a convivência com pessoas e bicicletas transformam Berlim numa cidade vibrante e alegre.

Cheguei a Amsterdam numa terça-feira de outubro. Levei um susto na estação ferroviária lotada. Trens modernos em um vai e vem intenso criam uma atmosfera frenética. Saí da estação meio atordoado e quase fui atropelado por um ciclista. Depois entendi que esta cena é comum na cidade que orgulhosamente se autodenomina “a cidade das bicicletas”. Em Amsterdam elas são excessivas, ocupam as calçadas e empurram as pessoas para o meio das ruas, onde os bondes elétricos também assustam. Pessoas, bicicletas e bondes elétricos disputam os espaços. Os carros não têm vez, sempre que necessário, as ciclovias roubam espaços das avenidas.

Cheguei em Salvador numa terça-feira de outubro. Levei um susto na Paralela, eram 5h da tarde e peguei um engarrafamento de quase uma hora para chegar ao Iguatemi. Parado no caminho senti falta das pessoas e das bicicletas de Berlim e de Amsterdam. Observei que, apesar de um canteiro central enorme, não existem calçadas nem ciclovias. Comecei a imaginar uma grande ciclovia e largas calçadas iluminadas pelo canteiro central da Paralela, elas estariam interligadas a outras iguais na Avenida ACM, na Juracy Magalhães, na Magalhães Neto, no Bonocô, na Luiz Eduardo, na Garibaldi, na Orla e na Suburbana. Todas cheias de pessoas e bicicletas.
As pessoas em Salvador não caminham nem andam de bicicleta, a cidade foi feita para o automóvel, porém não para tantos quanto estão aí. Seria bom se pudéssemos ir para o trabalho ou para a faculdade andando ou pedalando. A cidade ficaria mais alegre e saudável. Achei que um dos motivos de a cidade ser insegura é por que as pessoas não caminham. Mais gente nas ruas significa melhor qualidade de vida, mais convivência com a cidade, mais cuidado, mais atenção, mais fiscalização e menos violência. A reflexão é: As pessoas não caminham porque a cidade é violenta ou a cidade é violenta porque as pessoas não caminham?
Joaquim Nery Filho é geógrafo, agente de viagens e empresário do showbusiness. Apaixonado por viagens e fotografia.